Na área da tradução, a Inteligência Artificial (IA) vem sendo testada e estudada há muito
tempo (desde os anos 90, para ser mais exato, e olha que o Brasil nem é o pioneiro nesse
assunto!). Existem algumas instituições no país que, desde aquela época, vêm batalhando para
superar os desafios que a IA enfrenta quando falamos de linguagem.
Na tradução, as coisas funcionam um pouquinho diferente, porque comparamos idiomas que,
em sua maioria, possuem particularidades bastante distintas. Ainda assim, vemos um enorme
avanço nos resultados que as inteligências artificiais retornam hoje em dia.
Podemos encontrar diversos produtos que usam inteligências que atuam na área da
linguística, como: speech-to-text, text-to-speech, revisores ortográficos, sumarizadores
automáticos, mineradores de opinião, entre vários outros. Um dos mais famosos do momento
é o ChatGPT.O ChatGPT é um chatbot (robô) especializado em diálogos. Você consegue fazer perguntas
para ele e, então, ele buscará em sua base de dados (corpus) os assuntos relacionados, e a sua
resposta será uma dissertação sobre o assunto discutido. Ele é um modelo de linguagem
ajustado com técnicas de aprendizado, não uma inteligência artificial. Apesar de não ser um
tradutor automático, como o Google Tradutor, em que você insere a frase, escolhe o idioma e
é gerada a tradução para você, o ChatGPT é capaz de traduzir frases se você fizer uma
pergunta pedindo que ele faça a tradução de determinada sentença.
Todos esses produtos aos quais temos acesso hoje passaram por anos de trabalho árduo de
coleta, aplicação e teste de informações. Isso porque a IA precisa ser ensinada, sendo
necessário formalizar as regras e os usos para que ela possa, então, replicar e nos ajudar. Isto
pode parecer fácil em alguns casos, mas é um baita desafio em outros.
Ao mesmo tempo em que podemos simplesmente fornecer a ela um dicionário robusto e uma
grande quantidade de regras gramaticais, como fazemos para que ela diferencie casos de
polissemia, ironia, sarcasmo, bullying versus brincadeira, por exemplo?
Aos que não se lembram, polissemia são palavras iguais que possuem diversos significados.
Então, quando eu peço para que uma máquina traduza para mim a seguinte frase: “O banco
quebrou”. Como ela vai saber se esse banco é a instituição, o assento ou um banco de sangue?
Com um pouco mais de contexto, um humano consegue intuitivamente entender de qual
banco estamos falando, mas a máquina não tem intuição. Aí é que começam os desafios!
Sempre dizemos que a nossa língua é viva, pois, além de surgirem novas palavras, temos
variações. Por exemplo, a forma escrita no Twitter é diferente da forma escrita em um e-mail
de negócios. A primeira faz uso de muitas abreviações, hashtags etc., e tudo isso deve ser
constantemente ensinado à máquina para que ela possa fazer a tradução correta dos termos.
É preciso achar os padrões nas entrelinhas, algo que seja concreto, porque tudo que fica na
subjetividade, só o humano, com a sua capacidade cognitiva, será capaz de entender. O ser
humano resolve problemas intuitivamente e a máquina, ainda não.
Um outro exemplo que podemos usar é a frase: “Joguei a chave na mesa, ela quebrou”. A que
se refere esse “ela”? Chave ou mesa? Esse tipo de problema é muito comum e vem sendo
resolvido desde a sua origem, ou seja, muitos geradores de conteúdo já escrevem os seus
textos pensando em como facilitar para que as máquinas tenham menos problemas na hora de
traduzir.
A máquina não tem a capacidade de pensar sozinha, por isso, ela sempre vai buscar no corpus
sua resposta, e essa busca leva apenas segundos. A incrível capacidade de processamento de
uma IA é algo que nós, humanos, nunca vamos atingir, e é aí que começa o trabalho conjunto
entre humano e máquina. O uso de inteligências artificiais no ramo da tradução já é uma
realidade, e acreditamos que podemos, sim, trabalhar juntos. A máquina pode facilitar o
trabalho do tradutor, e existem tipos específicos de textos em que obtemos um resultado de
tradução melhor, pois não exigem tanto a intuição humana. Por outro lado, existem outros
textos que sempre exigirão a sacada humana.
Para fechar este artigo, queremos trazer a opinião do próprio ChatGPT sobre esse assunto.
Quando perguntamos a ele se as inteligências artificiais substituirão o tradutor humano, a
resposta foi muito próxima à opinião que apresentamos aqui:
“As inteligências artificiais (IAs) estão se tornando cada vez mais avançadas em termos de
tradução automática. No entanto, é importante lembrar que a tradução automática ainda tem
suas limitações e pode não ser capaz de substituir completamente a necessidade de tradutores
humanos em todos os casos. As IAs são muito úteis em tradução de documentos ou textos
simples e rotineiros, mas ainda não conseguem igualar a capacidade humana de lidar com
nuances linguísticas, sarcasmo, ironia, ambiguidades e outras formas de expressão que
requerem uma compreensão mais profunda do contexto cultural e histórico”.
É importante que nós, profissionais da área da tradução, enxerguemos tais tecnologias e
avanços como aliados e tentemos trazer o melhor que eles podem oferecer para o nosso lado.
E você? Concorda ou tem um ponto de vista diferente?
Kamila Lopes e Joanna Niero